A Endoscopia por cápsula, também chamada videocápsula endoscópica (VCE) é uma técnica endoscópica que permite o estudo do tubo digestivo, mediante a utilização de um dispositivo em forma de cápsula, que o doente engole sob supervisão médica e posteriormente elimina pelas fezes.
Diferentemente de outros procedimentos endoscópicos em que um tubo flexível é inserido no corpo, na endoscopia por cápsula, o paciente ingere uma pequena cápsula que contém uma câmera de vídeo e transmissor de dados.
A cápsula endoscópica é aproximadamente do tamanho de uma pílula de vitaminas e é facilmente engolida com um gole de água. À medida que a cápsula viaja pelo trato gastrointestinal, a câmara captura imagens de alta resolução do revestimento do intestino delgado, que são transmitidas sem fio para um gravador de dados usado pelo paciente. Posteriormente, o médico revê as imagens capturadas para diagnosticar qualquer anormalidade.
Consoante o segmento do tubo digestivo que se pretende estudar, distinguimos:
Enteroscopia por cápsula (a principal utilização)
Colonoscopia por cápsula
Panendoscopia por cápsula
Enteroscopia por cápsula
As atuais técnicas de endoscopia digestiva com fibroendoscópio permitem o estudo do estômago, do duodeno, do íleon terminal e do cólon. Pelas técnicas mais frequentemente utilizadas, não é possível o estudo endoscópico do intestino delgado.
A enteroscopia por cápsula é, atualmente, a principal técnica que permite o estudo do intestino delgado por endoscopia, atingindo zonas não acessíveis pela endoscopia convencional, desde a 3ª porção do duodeno até ao íleon terminal, mediante a utilização de um dispositivo em forma de cápsula, que o doente engole sob supervisão médica e posteriormente elimina pelas fezes.
Algumas das vantagens da enteroscopia por cápsula incluem:
Técnica não invasiva: Como a cápsula é engolida e viaja naturalmente pelo trato gastrointestinal, o procedimento é minimamente invasivo e não requer sedação ou anestesia.
Visualização completa do intestino delgado: Diferentemente de outros métodos de imagem, como a endoscopia convencional ou a tomografia computadorizada (TC), a cápsula endoscópica permite uma visualização detalhada de todo o intestino delgado, incluindo áreas que são difíceis de alcançar com outros procedimentos.
Conforto para o paciente: Uma vez que a cápsula é engolida, o paciente pode continuar as suas atividades normais enquanto a cápsula passa pelo trato gastrointestinal. Não há necessidade de um período de recuperação após o procedimento.
A enteroscopia por cápsula está indicada em uma variedade de situações, principalmente quando há suspeita de condições no intestino delgado e outras técnicas de imagem ou endoscópicas convencionais não fornecem informações suficientes. Aqui estão algumas situações em que a enteroscopia por cápsula pode ser recomendada:
- Sangramento gastrointestinal de origem obscura: Quando um paciente apresenta sangramento gastrointestinal, mas exames como endoscopia digestiva alta e colonoscopia não conseguem identificar a fonte do sangramento, a enteroscopia por cápsula pode ser usada para examinar o intestino delgado em busca de possíveis causas.
- Suspeita de doença inflamatória intestinal (DII): Para pacientes com suspeita de doença de Crohn, a enteroscopia por cápsula pode ser usada para confirmar e visualizar a extensão e a gravidade da inflamação no intestino delgado, complementando outros exames de imagem e endoscópicos.
- Doença celíaca: A enteroscopia por cápsula pode ser usada para avaliar doentes com doença celíaca refratária e de longa evolução, para a avaliar a sua extensão e excluir lesões associadas.
- Avaliação de tumores ou pólipos: Para pacientes com suspeita de tumores, pólipos ou outras lesões no intestino delgado, a enteroscopia por cápsula pode ser usada para visualizar essas anormalidades e determinar a necessidade de biópsias ou tratamento adicional. Também está indicada em poliposes familiares que afetam o intestino delgado
- Monitorização de doença inflamatória intestinal: Em pacientes com doenças crónicas que afetam o intestino delgado, como doença de Crohn ou doença de Behçet, a enteroscopia por cápsula pode ser usada para monitorizar a progressão da doença, avaliar a resposta ao tratamento e identificar complicações.
Existem alternativas à enteroscopia por cápsula ?
As patologias do intestino delgado são de difícil diagnóstico, pois quer os métodos radiológicos, quer os métodos endoscópicos têm várias limitações. Os métodos radiológicos (trânsito do delgado, enteroclise) acarretam uma exposição dos doentes a radiações, as imagens são difíceis de analisar, não há observação directa da mucosa, tendo uma sensibilidade e especificidade baixas. Os métodos imagiológicos mais recentes, como a enterorressonância magnética ou o enteroTC são possibilidades reais, mas não demonstraram ter uma acuidade diagnóstica equivalente à VCE. Os métodos endoscópicos ( enteroscopia de pulsão, enteroscopia assistida por tubo, enteroscopia per-operatória) apresentam igualmente uma série de limitações.
Colonoscopia por cápsula
A colonoscopia por cápsula é possível mediante a utilização de uma cápsula especial (com 2 câmaras), que é deglutida e, com método de preparação especial, pode permitir a visualização completa do cólon.
As principais indicações são: as situações de colonoscopia incompleta (em casos em que não foi possível realizar a colonoscopia total por problemas técnicos), permitindo completar o estudo endoscópico do cólon; o rastreio de cancro do cólon em indivíduos de risco médio e que não querem realizar a colonoscopia convencional; nas situações em que está indicada uma colonoscopia mas existem condições médicas subjacentes que condicionam a sua execução.
Panendoscopia por cápsula
Realizando a técnica e metodologia utilizada para a colonoscopia por cápsula, torna-se, de fato, possível observar endoscopicamente a totalidade do tubo digestivo, desde a boca até ao ânus. É este o conceito da endoscopia por cápsula, que tem como principal indicação o seguimento dos doentes com doença inflamatória intestinal (doença de Crohn) e opcionalmente, a reavaliação de doentes anteriormente estudados com recorrência da hemorragia digestiva.
Riscos e contraindicações
Embora a enteroscopia por cápsula seja geralmente considerada segura, como qualquer procedimento médico, ela apresenta alguns riscos potenciais. O principal é a retenção da cápsula, uma vez que em alguns casos, a cápsula pode ficar retida no trato gastrointestinal, especialmente se houver estreitamentos ou obstruções ao longo do trajeto da cápsula. Isso pode ocorrer devido a condições como estenose, divertículos, aderências ou tumores. Se a cápsula não for eliminada naturalmente dentro de um determinado período de tempo, pode ser necessária uma intervenção médica, endoscópica ou cirúrgica para removê-la. Embora seja raro, pode existir um risco de complicações relacionadas à ingestão da cápsula, estando descritos alguns casos de ocorrência de asfixia ou obstrução das vias respiratórias se a cápsula ficar presa na garganta ou no esófago durante a ingestão. Isso é mais provável em pacientes com dificuldade de deglutição ou condições anatômicas anormais. Por esse motivo, a cápsula deverá sempre ser deglutida sob supervisão médica.
É importante discutir todos os potenciais riscos e benefícios da enteroscopia por cápsula com seu médico antes de realizar o procedimento. Se você tiver preocupações específicas sobre os riscos associados à enteroscopia por cápsula, não hesite em conversar com seu médico para obter mais informações e esclarecimentos. Poderá também agendar uma consulta com um dos nossos gastroenterologistas.
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Como evitar o risco de retenção da VCE ?
Para evitar o risco de retenção, os doentes que têm antecedentes que possam pressupor risco de obstrução no intestino deverão ser identificados, tais como: doentes com antecedentes de radioterapia abdominal, oclusão intestinal, múltiplas cirurgias abdominais com aderências, doença de Crohn com estenoses e com história de tomada frequente de anti-inflamatórios não esteróides. Também deverão ser considerados os casos em que os exames imagiológicos anteriormente realizados mostraram sub-estenose ou espessamento de ansas no intestino delgado.
Nestas situações de risco de retenção pode-se realizar um estudo da patência do intestino delgado à passagem de uma cápsula. Trata-se de uma cápsula (Cápsula de Patência) que tem as mesmas dimensões de uma cápsula endoscópica e que é ingerida, vigiando-se a sua excreção durante 2-3 dias. Se for expulsa dentro deste intervalo, dá uma previsão de que a realização da endoscopia pela VCE será segura. Se não ocorrer a sua excreção, realiza-se estudo imagiológico para identificar o local onde ficou retida. A cápsula de patência acaba por se desintegrar sob o efeito dos sucos digestivos, não tendo riscos de retenção a longo prazo.
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Limitações da endoscopia por cápsula
É importante notar que a endoscopia por cápsula tem incapacidade de realizar biópsias ou procedimentos terapêuticos durante o procedimento.
Existem situações em que ocorrem limitações na realização da endoscopia por cápsula:
Incapacidade de ingestão da cápsula – pode ocorrer em pessoas com problemas da deglutição ou mesmo em pessoas saudáveis. Também em crianças, grupo etário em que está demonstrada a segurança desta técnica. Esta limitação é ultrapassada pelo recurso à introdução da cápsula por endoscopia convencional.
Atraso da progressão da cápsula no esófago ou no estômago – pode ocorrer em casos (alguns imprevisíveis), tornando o procedimento inconclusivo. Esta limitação é ultrapassada vigiando, em tempo real, a progressão da cápsula. Nos casos em que a VCE não tenha entrado no intestino delgado após 1 hora após a ingestão, recorremos à administração de um medicamento procinético (acelerador do esvaziamento do estômago). Nos casos em que, apesar da administração do procinético, a VCE permanece no estômago por mais de 3 horas após a sua ingestão, ponderamos a realização de endoscopia digestiva alta, para colocação da VCE no duodeno. O doente só abandona o Laboratório ManopH quando estivermos seguros de que a VCE segue a sua “viagem” no intestino delgado.
Risco de falha na visualização completa do intestino delgado: Em alguns casos, a cápsula pode não fornecer imagens adequadas do trato gastrointestinal devido a fatores como transito lento no intestino delgado, má qualidade das imagens (por persistência de conteúdo intestinal), má função da bateria ou problemas técnicos com o equipamento. Isso pode levar a uma avaliação incompleta ou inadequada do trato gastrointestinal, exigindo repetição do procedimento ou recurso a exames adicionais para obter um diagnóstico preciso.
Aspetos técnicos da endoscopia por cápsula
A cápsula não vai ligada a nenhum fio ou cabo, e leva no seu interior um sistema de lentes e um emissor de imagens ,que são recolhidas num gravador que se transporta num cinturão, enquanto dura a gravação. No cinturão, além do gravador, encontra-se uma antena, que recebe o sinal emitido pela cápsula.
Para efectuar o exame, o doente terá que deglutir a cápsula, o que não apresenta dificuldade, após um jejum de 10 horas, e em seguida poderá efectuar as suas actividades habituais; enquanto isso a cápsula percorre o tubo digestivo propulsionada pelo peristaltismo intestinal, captando as imagens do tubo digestivo sem qualquer desconforto para o doente. Ao fim de 10 horas o exame está terminado, o doente regressa ao Laboratório ManopH, sendo a informação armazenada no registador, que o doente transportava à cintura, gravada para o computador, processada pelo software e interpretada pelo Gastrenterologista.